that's disgusting!
Do Vi o Mundo
A decisão de Lula
por Luiz Carlos Azenha
O presidente Lula deve mudar o Plano Nacional de Direitos Humanos, retirar dele os "pontos polêmicos" -- leio na mídia. O plano, como vocês sabem, é meramente propositivo. Expressa diretrizes gerais, por isso vagas. Foi resultado de um longo processo de conferências, consultas, negociações e votações.
Grupos diversos protestaram contra o conteúdo do plano, mesmo sabendo que qualquer das propostas -- repito, qualquer uma -- só será adotada depois que for escrito um projeto de lei, apresentado e aprovado no Congresso Nacional -- o que incluiria um novo período de consultas e negociações.
Mas a elite brasileira não está acostumada com a democracia. Está acostumada a não consultar ninguém, nem a população, nem a sociedade civil organizada. É a famosa democracia "dos de cima". Através dos meios de comunicação, a elite brasileira imporá uma derrota não ao governo Lula, mas ao princípio de que o Brasil pode ser governado por mais do que meia dúzia de pessoas. É uma derrota de todo o processo de participação, que inclui as conferências de comunicação, de saúde, de Direitos Humanos, etc.
É óbvio que o presidente Lula faz isso por motivos políticos. Ou por ser conciliador. Ou por achar que tudo se resolve assim, numa conversa de gabinete. Ou por achar que não vale a pena perder votos para a candidata dele, Dilma Rousseff, em defesa de propostas tão genéricas. Mas o fato concreto é que trata-se de mais uma situação em que uma decisão do presidente da República será profundamente desmobilizadora.
Quem é que vai se preocupar em participar de algum fórum, algum debate, alguma conferência, alguma discussão, se corre o risco de ver todo o trabalho que fez ser detonado lá na frente por uma canetada presidencial, porque o Ali Kamel não gostou, o Boris Casoy mentiu a respeito, um ministro de seu próprio governo chiou? É uma decisão lamentável não por abrir mão deste ou daquele ponto do plano -- afinal, repito, são meras diretrizes -- mas pelo recado que manda à sociedade civil: vão ganhar dinheiro, deixem que a gente governa aqui, nos gabinetes de Brasília, deixem que eu decido numa conversinha com o bispo, o general e o filho do Roberto Marinho.
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